A relação entre as horas de cuidados de enfermagem necessárias e prestadas e os resultados observados em doentes internados em meio hospitalar

Os recursos disponíveis para o sector da saúde são, por definição, limitados e muitas vezes insuficientes para cobrir todas as necessidades. Este panorama de escassez de recursos na saúde exige aos profissionais uma nova postura face à gestão de pessoal, baseada no rigor e na fundamentação criteriosa das necessidades. Neste estudo apresenta-se o sistema de classificação de doentes como instrumento de gestão e planeamento de efectivos, através do qual é possível a identificação das necessidades de cuidados de enfermagem, a definição de orçamentos dos serviços, a comparação das horas de trabalho de enfermagem e análise da efectividade da prestação face às necessidades identificadas entre diferentes serviços.

A mudança, ainda que subtil, do paradigma tradicional da gestão dos recursos de enfermagem fez com que os responsáveis pela gestão de enfermagem passassem a olhar a gestão do trabalho dos seus colaboradores de forma mais racional e precisa, através da utilização de instrumentos de medição, avaliação e previsão das necessidades de recursos. 

A finalidade deste estudo é analisar como o acréscimo de eficiência na gestão dos recursos humanos da saúde, mais especificamente dos enfermeiros hospitalares, pode melhorar o impacto e, em última instância, a qualidade dos cuidados prestados. Mais especificamente pretende-se verificar se existe correlação entre a gestão do trabalho de enfermagem e alguns resultados observados em doentes (patient outcomes), internados em cinco serviços do Hospital de Abrantes Dr. Manoel Constâncio (dois serviços de Medicina Interna, dois de Cirurgia Geral e um de Ortopedia). 

É um estudo, de caso, epidemiológico com um delineamento analítico ecológico. 

A população e a amostra do estudo são constituídas por todos os doentes que estiveram internados nos serviços seleccionados (Medicina Interna, Cirurgia Geral e Ortopedia) durante os períodos de observação definidos, sendo os dados agrupados pelos respectivos serviços. 

De modo a avaliar o impacto e influência das variáveis independentes sobre as dependentes realiza-se uma análise estatística de correlação de Pearson, linearidade e avaliação da intensidade da relação entre as variáveis utilizando o Qui-Quadrado para Tendências.  

No presente estudo, considera-se como variáveis independentes os indicadores de gestão do trabalho de enfermagem, medidos através: das Horas de Cuidados de Enfermagem Necessárias (HCN); das Horas de Cuidados de Enfermagem Prestadas (HCP); da Variação entre Horas de Cuidados de Enfermagem Prestadas e Horas de Cuidados de Enfermagem Necessárias (VAR); da Taxa de Utilização dos Cuidados de Enfermagem (TU).

Utilizando-se o Sistema de Classificação de Doentes em Enfermagem desenvolvido pelo IGIF e que está aplicado em 37 hospitais nacionais. 

Como variáveis dependentes consideram-se os resultados observados em doentes durante o internamento nos referidos serviços do Hospital em estudo, sendo estes: taxa de Incidência de Úlceras de Pressão; taxas de Mortalidade Intra Hospitalar; total de Dias de Internamento; demora Média de Internamento. 

Os resultados obtidos sugerem existir correlação entre as variáveis de gestão do trabalho de enfermagem e os resultados observados em doentes. Deste modo, conclui-se que os piores resultados observados em doentes estão correlacionados com: os maiores níveis de dependência dos doentes face aos cuidados de enfermagem; as maiores disparidades entre as necessidades de cuidados e a prestação efectiva; a ineficiente gestão do trabalho de enfermagem; as maiores carências de enfermeiros nos serviços.

E ainda com: a população mais idosa; o mês de Dezembro.

Uma gestão do trabalho de enfermagem fundamentada nas necessidades de cuidados, através de ferramentas como o Sistema de Classificação de Doentes em Enfermagem, poderá resultar numa prestação de cuidados mais coerente, eficiente e com menores resultados adversos observados em doentes.

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