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Violência no Local de Trabalho no Sector da Saúde: Estudos de Caso Portugueses

Autor: 
Paulo Ferrinho

O estudo mede e caracteriza o problema da violência contra os profissionais de saúde no local de trabalho (VCPSNLT) em áreas seleccionadas em Portugal. Responde a questões como: Quais são os profissionais de saúde mais afectados? Quais os tipos de violência mais frequentes? Em que circunstâncias ocorrem os episódios de violência? Quais os procedimentos institucionais? Quais as consequências para as vítimas, as Instituições e os agressores? Qual o posicionamento dos sindicatos e associações profissionais acerca deste problema?

O estudo está dividido em quatro partes: estudos documentais, estudo de caso do hospital, estudo de caso do centro de saúde, e estudo de representantes institucionais (stakeholders).

Os estudos documentais incluem uma revisão da literatura profissional e análise de conteúdo de documentos institucionais e de artigos de jornal. O objectivo da revisão da literatura é identificar a literatura cinzenta e o que foi publicado em Portugal, em revistas profissionais, acerca de violência contra os profissionais de saúde no local de trabalho (VCPSNLT). O estudo de documentos  institucionais ajuda a caracterizar a VCPSNLT relativamente aos seguintes aspectos: o contexto da violência encontrada; qual o tipo de violência que é mais frequentemente denunciada por escrito; quem (grupo profissional) denuncia  a violência com mais frequência; quais as respostas institucionais a estas denúncias. Foram analisados relatórios de incidentes oficiais de Hospitais e Centros de Saúde bem como relatórios de acidentes (nos quais a violência foi a causa). A análise da imprensa nacional identifica o que é transmitido para o público, através da imprensa escrita.

O estudo de caso do hospital incluiu a adaptação e aplicação de um questionário internacional a todos os profissionais de saúde do hospital distrital seleccionado. O hospital foi seleccionado tendo como base ser um hospital distrital de média dimensão, situado numa cidade residencial em crescimento rápido, da área metropolitana de Lisboa, mas servindo também uma população rural e tendo o apoio do Conselho de Administração do hospital para o estudo. Duzentos e setenta e sete trabalhadores dos trezentos e quarenta e oito existentes no hospital responderam ao inquérito, o que representou uma taxa de resposta de 80%.


No estudo de caso do Centro de Saúde, este foi escolhido com base no interesse e apoio do director do CS quando contactado para o efeito. O complexo do CS estudado é urbano e constituído por quatro unidades de cuidados de saúde primários (extensões). A população abrangida por este CS é na sua maioria urbana, incluindo alguns dos bairros mais ricos do país mas, também abrange bairros rurais e urbanos carenciados. O estudo incluiu uma nova adaptação e aplicação do questionário internacional. Duzentos e vinte e um trabalhadores dos duzentos e oitenta existentes no complexo do CS responderam ao inquérito, o que representou uma taxa de resposta de 86%.

No que diz respeito ao estudo dos representantes institucionais (stakeholders), foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, posteriormente submetidas a análise de conteúdo, com o intuito de perceber: quais as políticas e procedimentos institucionais para lidar com a VCPSNLT; as consequências para os serviços de saúde; o posicionamento dos sindicatos e associações profissionais acerca deste problema e as possíveis soluções. Num universo de 43 representantes institucionais, previamente seleccionados e posteriormente contactados, 28 concederam-nos entrevista, o que representou uma taxa de resposta de 65,1%.

A metodologia escolhida para o presente estudo forneceu uma grande quantidade de informação muito útil acerca da violência no local de trabalho no sector da saúde português, o que provavelmente será de grande valor para a progressão do presente projecto e de grande importância para  futuros desenvolvimentos do assunto em Portugal.


É importante referir que este estudo descreve um fenómeno, mas não contribui para clarificar porque é que o fenómeno ocorre quando ocorre, apesar de o estudo dos representantes institucionais tentar lançar alguma luz sobre isso.
O que sobressai dos resultados obtidos é que o problema da VCPSNLT é um problema generalizado e muito prevalente. Não deve ser abordado como um simples problema de segurança mas como um assunto multifactorial com determinantes culturais, políticas, sociais, económicas, de gestão e individuais.
Apesar de apresentar algumas limitações, este continua a ser o único estudo português formal sobre violência contra os profissionais de saúde no local de trabalho.

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